No podemos tener amigos!

Mi hermano Paulo Paiva, que esteve em Cuba com uma amiga comum, Andréa Leão, é que devia contar essa história. Mas já que ele está enrolando — e tem mil outras cubanidades para narrar — vou contar ao menos essa, que muito me marcou. Ambos estavam em Havana, hospedados no apartamento de Alexey, um amigo cubano — que conheceram aqui mesmo no Brasil — e se preparavam para ir passar alguns dias com outros amigos do outro lado da cidade. Como Alexey (o amigo) tinha carro, imaginavam que ganhariam uma carona até lá. As malas feitas, a bagagem pronta, ouvem do anfitrião:

“Desculpe, não poderei levá-los, mas vocês vão conseguir um taxi fácil-fácil aí na rua”.

Andréa e Paulo acharam normal, tudo bem, disseram, não queriam incomodar o cara que certamente teria mais o que fazer. Mas Alexey permanecia constrangido, uma expressão de consciência pesada estampada no rosto.

“Olha”, começou ele, “não é porque não quero levá-los ou porque estou muito ocupado para fazê-lo” e olhou na direção da esposa. “É porque aqui em Cuba”, disse irritado, “nosotros no podemos tener amigos!”

“No les diga eso, cariño…”

“Pero, si es la verdad, ¿por qué no lo puedo decir?”

Andréa e Paulo ficaram espantados, olhando-se de soslaio, ouvindo aquela estranha discussão. A esposa tinha mais admiração pelo sistema cubano que o marido, e por isso preferia fazer vistas grossas a certos “detalhes”.

“O problema é o seguinte”, tornou Alexey. “Se eu colocar vocês dois no meu carro e sair por aí, certamente serei parado na rua por uma blitz e a polícia ou me multará ou me prenderá por estar trabalhando ilegalmente como taxista. Eles nuuunca vão acreditar que vocês, dois estrangeiros, são meus amigos. Se vocês disserem isso a eles acharão que estão apenas tentando limpar a minha barra, tentando condescender comigo. Porque aqui”, e voltou a encarar a esposa, “nosotros no podemos tener amigos!

Paulo e Andréa, temendo pelo amigo (e por uma briga política de casal), foram então buscar um taxi.

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