Nos últimos dois meses já li “Miscelânea”, “America”, “Na antevéspera”, “Onda verde”, “Mundo da Lua”, “Prefácios e entrevistas”, “Problema vital”, “A barca de Gleyre” e “Idéias de Jeca Tatu”, todos do Monteiro Lobato, uma verdadeira overdose de leitura, livro sobre livro, algo que costumo fazer sempre que me apaixono pelas palavras dum escritor. E já fazia tempo que não me apaixonava literariamente. Todos esses títulos fazem parte da “obra para adultos” do José Renato – ele passou a assinar José Bento apenas para usar a bengala do avô, cujo castão trazia as iniciais JBML. E estou chocado: o cara é certamente o maior escritor da primeira metade do século XX e só falam nele como se fosse “apenas” o pai da Emília. O cara foi um gênio incansável, um visionário, e metia o bedelho em tudo: política, economia, indústria, ciência, comércio, filosofia, artes, literatura, etc. e isso não apenas pela palavra como também pela ação, tendo lançado a primeira grande editora do país, procurado petróleo e estimulado a mineração de ferro, a construção de estradas e o saneamento. Perto dele, a obra do Mário de Andrade é uma sujeirinha sob a unha do dedão do pé da cultura local. E olha que a li quase toda, a obra do Mário, isto é, seus dois únicos romances: Macunaíma e Amar, verbo intransitivo.
Aliás, falando nos modernos, concordo totalmente com o artigo Paranóia ou mistificação, do Lobato, onde critica de modo muito mais light do que se supõe a obra de Anita Malfatti. (Ele talvez só devesse ter reconhecido que, se um artista não domina sua própria visão de mundo, é então dominado e passa a ser o pincel do mundo, um artista inconsciente, mero espelho e sintoma das deformidades da vida. Quem não entende de Arte com A maiúscula pensará que isso é uma vantagem, mas… bom, deixa pra lá.) Em outro artigo, cujo título no momento me escapa, fala elogiosamente de Oswald de Andrade e sua “destruição”, através da tiração de sarro, das formas arcaizantes que estrangulavam a criatividade do brasileiro. Mas deste artigo ninguém se lembra, só daquele da Malfatti.
Em suma, Monteiro Lobato é atualíssimo, engraçadíssimo e várias de suas crônicas poderiam circular hoje como se escritas ontem. É um autor que merece ser redescoberto e isso não apenas através do Sítio do Picapau Amarelo. Se ele passou a escrever para crianças é porque percebeu que estava muito à frente do seu tempo e que, se os adultos por inveja ou burrice não o reconheciam, as crianças, que não tem preconceitos, que são livres de imaginação e mente, sim o aceitariam. E, como sempre, ele estava certo…
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Assista a uma entrevista, no rádio, com Monteiro Lobato:
Primeira parte:
Segunda parte:
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Yuri, leia o livro “O presidente negro”, de Monteiro Lobato. É fascinante!