O presidente Lula, como muita gente andou dizendo por aí, deveria ter aproveitado as mãos sujas de petróleo para “tocar piano”, isto é, para deixar suas digitais numa ficha policial antes de adentrar à prisão, afinal, se ele está disposto a assumir os supostos louros da nossa auto-suficiência em hidrocarbonetos via Petrobrás, deveria assumir também a responsabilidade do Estado para com os primeiros exploradores de petróleo deste país, aliás, exploradores privados, os quais investiram dinheiro do próprio bolso para descobrir as áreas produtivas e perfurar os primeiros poços, tendo, como compensação, após o sucesso das perfurações, suas empresas encampadas pelo Conselho Nacional de Petróleo do governo Getúlio Vargas.
No final de 2005, li O Escândalo do Petróleo, de Monteiro Lobato, sobre o qual escrevi um artigo curto. Eis um trecho:
[Monteiro Lobato] ficou horrorizado quando o Poço Lobato, na Bahia, primeiro jorro de petróleo em terras brasileiras, graças à iniciativa privada, foi fechado pelo governo – o qual aliás havia declarado que naquela região não havia hidrocarbonetos – tendo sido, em seguida, enfeitado com um obelisco e os dizeres: “O Primeiro Campo Onde Jorrou Petróleo no Brasil – Organização do Conselho Nacional do Petróleo no Governo do Dr. Getúlio Vargas”. Ao acusar o roubo estatal, foi preso. Mais tarde, descobriu que a Standard Oil Company, dos Rockefeller, – impedida por lei de dominar a extração de petróleo nos EUA – já mapeara todas as áreas petrolíferas do Brasil, isso desde o início do século, e por isso comprava nossos políticos para manter o monopólio ao menos nessas bandas. Assim, enquanto nos EUA eram abertos poços de petróleo particulares numa taxa de 20.000 ao ano – desde meados do século XIX – no Brasil, o primeiro poço era então tomado pelo governo e os demais impedidos de funcionar por contradições legais: enquanto uma lei do famigerado Conselho proibia estrangeiros de participar como acionistas das companhias petrolíferas nacionais – e para ser considerado um estrangeiro bastaria possuir um sobrenome de origem estrangeira – um artigo da constituição proibia os diretores de empresas de excluir sócios devido à sua nacionalidade… Logo, a burocracia local – aliada à safadeza de capitalistas selvagens estrangeiros – travou nossa livre iniciativa, o nosso capitalismo. (Não é à toa que o corolário de todo esse processo, a Petrobrás, seja aquilo que é – uma financiadora de politiqueiros malandros.)
Por isso é engraçadíssimo ler o fascículo especial da revista Isto É sobre a Petrobrás, fascículo este patrocinado pela… Petrobrás. Enfim, a matéria da Isto É nº1906 afirma que a Petrobrás foi criada em função do slogan “o petróleo é nosso!” e, portanto, visava impedir a exploração estrangeira dos nossos recursos naturais. Isto é uma grande mentira, porque a única verdadeira intromissão estrangeira, existente desde o início do século XX, se dava justamente através da Standard Oil Company, que comprava todos os políticos locais com a intenção de travar a iniciativa privada nacional. Esses estrangeiros que a Petrobrás supostamente vinha combater não passavam de imigrantes que vieram de mala, cuia e coração ao Brasil, e totalmente dispostos a crescer e a levar seu país adotivo em direção à prosperidade. No fundo, toda a questão se resumia à luta do estatismo contra a liberdade individual, estatismo esse que preferiu manter para si o controle da produção petrolífera em benefício de alguns políticos escolhidos – sob a tutela dos Rockefeller – e abandonar os empreendedores nacionais num labirinto burocrático sem saída. A elite estatal brasileira, que graças à Standard Oil já lucrava desde sempre com as reservas petrolíferas inexploradas, criou a Petrobrás com o único intuito de continuar se dando bem em cima do desavisado povo, afinal, a pressão da livre iniciativa nacional não iria permitir ao país continuar ignorando o fato de que havia sim petróleo no Brasil.
Qualquer um que tenha contato com o livro do Monteiro Lobato percebe que a auto-suficiência em petróleo brasileira, caso a exploração não tivesse sido monopolizada pelo Estado, já teria sido alcançada há pelo menos trinta anos. E os empreendedores brasileiros não eram apenas famílias ricas como os Matarazzo, mas associações entre cidadãos comuns, os quais, assistindo às palestras promovidas em diversas cidades brasileiras por Monteiro Lobato, seus sócios e mesmo seus concorrentes, decidiam então fazer parte do empreendimento através da compra de ações. Quando o Conselho Nacional de Petróleo ROUBOU os poços particulares, roubou o próprio povo brasileiro e não capitalistas selvagens estrangeiros. Daí a conclusão de Monteiro Lobato, que foi preso após escrever uma carta pessoal – e não uma carta aberta – ao presidente Getúlio Malandro Vargas:
Chega. Não quero nunca mais tocar neste assunto de petróleo. Amargurou-me doze anos de vida, levou-me à cadeia – mas isso não foi o peor. O peor foi a incoercível sensação de repugnância que desde então passei a sentir sempre que leio ou ouço a expressão Governo Brasileiro…
Não ouça o Lula, compre o livro O Escândalo do Petróleo e do Ferro e leia-o até o fim.
(Artigo publicado em O Expressionista.)
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