Swedenborg (1688-1772) |
Emanuel Swedenborg é considerado um dos caras mais deslumbrantes do milênio passado, tendo estudado com afinco – entre outras coisas – filosofia, física, astronomia, mineralogia, matemática, anatomia, geologia, economia, política, metalurgia, etc., publicando inclusive diversos volumes sobre todos esses assuntos. Mas sua fama vem de outro fato: em meados de 1744, quando já era um cientista reconhecido, Swedenborg, já quase um sessentão, passou a ter uma série de sonhos, visões e projeções astrais, que se prolongaram até o final de sua vida (1772). Tudo começou quando, decepcionado por não conseguir se encontrar com Isaac Newton – a personalidade mais festejada de sua época – esbarrou, numa rua de Londres, com um desconhecido que o convidou a ir tomar uma cerveja. Até posso imaginar esse desconhecido lhe dizendo: “Relaxa, quem disse que você não irá encontrar figuras muito mais interessantes…” Naquela noite o cara retornou, enquanto Swedenborg dormia, e o levou a conhecer o Céu e o Inferno: era Jesus Cristo! Swedenborg, que já fora inclusive um político importante na Suécia, tornou-se um místico tão trabalhador quanto o cientista que fora, tendo escrito vários livros a partir de suas experiências fora do corpo. Dizem que o próprio Kant escreveu uma de suas “Críticas à razão blablablá” porque ficara enfurecido com os livros do Swedenborg e queria, portanto, provar que a razão tem certos limites que impedem o conhecimento metafísico e experiências tais.
Sempre que aparece alguém tentando ampliar nossa “visão de mundo“, arma-se um coro de indignados para tentar calá-lo. Mas ninguém jamais conseguirá provar que o sábio sueco foi um mero louco: como escreveu Emerson, “nunca houve pessoa mais realista que Swedenborg”, o qual viveu de forma totalmente pragmática, recusando, por exemplo, o convite para ser professor de astronomia numa universidade de renome simplesmente porque achava chata a atividade teórica. Sem falar no fato de ele ter sido, o que é mais espantoso, engenheiro militar do rei Carlos XII da Suécia. E, como Leonardo da Vinci, também ele fez seus esboços para uma futura máquina voadora. Sim, Swedenborg tinha os pés muito bem plantados no chão. Posteriormente, chegou a crer que toda sua carreira anterior não fora senão uma preparação para seu trabalho como revelador da realidade pós-morte. E tudo isto muito antes do espiritismo.
Ao contrário de místicos mais nebulosos – como Madame Blavatsky, ou mesmo San Juan de la Cruz, – Swedenborg não usa uma linguagem figurada para descrever suas experiências. Não usa descrições poéticas para tratar de êxtases subjetivos. Seus livros são claros e tranqüilos como o de um viajante que apenas relata o que viu e ouviu. Em geral, limita-se a descrever o que encontrou nas várias “camadas” de “inferno” e “céu“. Descreve cidades, grupos, atividades, paisagens e, claro, as conversas que teve com diversos “anjos” e “demônios“, os quais, segundo ele, não são senão homens que ascenderam ou descenderam. Seus empregados, aliás, o viram diversas vezes dialogando com uma cadeira vazia: ora falava com um “anjo”, ora com um “demônio”. Já não precisava abandonar o corpo, em projeções astrais, para encontrá-los: eles o procuravam.
Swedenborg afirmava que fora encarregado, por Jesus, de ensinar o que é que afinal ocorre com o ser humano após a morte física. Foi o primeiro a registrar essa idéia tão utilizada pelo cinema nos últimos anos: quando alguém morre, a princípio, não percebe que morreu. Também escreveu sobre a existência do casamento no céu e sobre os prazeres sensuais que, após a morte, são ironicamente muito mais vivos. Descreveu o inferno como um mundo caótico cheio de conspirações, ódio, inveja e lutas pelo poder. (Soa familiar, né não?) Para Swedenborg, a vida eterna seria fruto do amor, da justiça, do trabalho e da inteligência. Sobre ele, disse o escritor Jorge Luis Borges: “Sua leitura não é exatamente divertida. É espantosa e gradualmente divertida”.
Na minha opinião, a única grande viagem na maionese, por parte do viajante astral sueco, foi acreditar que era o único a possuir a chave para decifrar todos os textos bíblicos, os quais teriam mil e um significados ocultos.
Pra saber mais sobre o cara, veja o site The Heavenly Doctrines (tem muitos livros nele em inglês) e também A Nova Igreja (alguns textos em português) e Emanuel Swedenborg’s Theological Writings.