Leia abaixo alguns fragmentos, de autoria do escritor romeno Vintila Horia (1915-1992), extraídos do livro “Viagem aos centros da Terra“:
“Estamos a viver um tempo em que ninguém já morre pela sua fé, mas em que, pelo contrário, é a fé dos outros que nos está a matar…”
“Há dois mistérios capazes de atrair a morte e de a aniquilar: escrever e amar, experiências originárias e últimas, a morte da morte…”
“Um intelectual maneja conceitos que não lhe pertencem, vive das idéias dos criadores; é o que é o técnico no mundo da ciência. E ele é que domina num mundo em que deviam ser os criadores a dominar.”
“O estético, o ético e o religioso formarão, unidos, uma nova religião, a pressentida por Kierkegaard, Dostoiévski, Nietzsche, Kafka e Husserl…”
“Esse instante será provavelmente decisivo, constituirá uma mutação absoluta dos tempos e só três categorias de seres humanos terão os olhos abertos e compreenderão aquilo: os santos nas suas celas, os chefes comunistas dignos deste nome, também nas suas celas, e os romancistas em qualquer lugar. Os primeiros pertencerão a Deus, os segundos ao Diabo e os terceiros serão de propriedade contestada…”
“Os verdadeiros ativistas só poderão ser os romancistas independentes. Acredito no extraordinário futuro do romance, principalmente do romance metafísico. Só o romance metafísico, justamente porque transcende a psicologia e a política, poderá dominar e explicar tipos humanos tão disfarçados como, por exemplo, Churchill, Hitler ou De Gaulle, e obrigá-los a confessar tudo…”
“Husserl não só está na base de algumas das mais célebres conversões do século XX (era protestante, de origem judaica), como está ainda em concordância com o zen e com a obra literária de James Joyce.”
“A fenomenologia não é uma filosofia ou escola, uma teoria ou uma opinião, mas sim uma visão do mundo, cujo fim é a transformação total do ser, transformação pessoal, entenda-se.”
“Esta maneira profunda de ver as coisas implica aquilo a que os antigos chamavam metanóia, quer dizer, uma mudança essencial, uma revolução interior, que tanto pode ser levada a efeito por um gênio como pela consciência mais modesta, visto não haver vida interior pobre, segundo a chave que a fenomenologia nos apresenta da alma. Há somente um situar-se intencional dentro do mundo, que eleva cada ser humano àquilo que o seu próprio thymós ou plano vital lhe permitirá ser em plenitude.”
“O ser humano não pode viver fora do sobrenatural.”
“A novela e o romance vêm substituir, enquanto dimensão popular, acessível, a poesia, e atingirá as suas culminâncias com Kafka, Joyce, Musil, Proust, Jünger, Camus, etc., no momento em que consegue pôr o problema da realidade com a mesma intensidade e amplitude que a filosofia ou a física contemporâneas.”
“Ser uma ilha, um segredo, revelado pouco a pouco através duma obra literária.”
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