Sinhozinho Lula

Sinhozinho Malta

Lemos na página de notícias do site Terra:

Segundo [o deputado Roberto] Jefferson, Dirceu “é o chefe do maior esquema de corrupção que eu vi nos últimos anos. Já o presidente Lula é um homem de mãos limpas e honrado”, defendeu Jefferson.

O que mais me espanta nessa declaração – além de ter sido feita por um homem capaz de misturar, em menos de meio minuto de discurso, grandes omissões e terríveis verdades – é a semelhança com o que foi dito sobre o próprio ex-ministro José Dirceu quando da revelação do escândalo Waldomiro Diniz: “Ah, pobre Dirceu, foi traído, não sabia de nada…” Na ocasião, escrevi uma pequena crônica – Sinhozinho José Dirceu – a qual tomei a liberdade de parafrasear quase que letra por letra, tomando o cuidado de substituir o nome de Waldomiro pelo de José Dirceu e o deste pelo de Lula. Ficou assim:

Na novela Roque Santeiro, o famigerado Sinhozinho Malta costumava despachar Terêncio, seu capanga, para a execução dos mais diversos crimes sem jamais falar diretamente sobre suas intenções. Limitava-se a fazer a caveira de algum inimigo, enumerando todas as vantagens que teria se o “cabra” jamais tivesse nascido. Terêncio devolvia: “O sinhozinho num quer que eu mate ele? Posso estripar o sujeito agora mesmo”, ao que o coronel contestava: “Num me digue nada, Terêncio, num me digue nada!”, e então agitava o relógio e as inúmeras pulseiras feito chocalho de cascavel.

Pois é, alguma coisa me diz que o presidente Lula pode ter pleno conhecimento dessa forma de, como diriam os zen-budistas picaretas, “não-ação”. Não me refiro a assassinatos, é claro. Mas, atuando como sinhozinho, tecnicamente ele não teria mesmo culpa do que quer que seja. E sempre poderia, como o próprio sinhozinho Malta, jogar posteriormente toda a responsabilidade sobre seu sequaz. Afinal, onde estaria a ordem positiva? Onde estariam os vestígios do “faça isso”? Num tribunal, à pergunta de se recebeu ou não ordens diretas de Lula, Dirceu só poderia responder: “Não”. (Talvez todo esse procedimento tenha sido parte do treinamento em Cuba, não é? O próprio Dias Gomes, autor da novela Roque Santeiro, devia entender bem dessas coisas.) Enfim, até posso imaginar Lula lamentando-se para seu agora ex-ministro: “Ah, Dirceu, que pena, os deputados não estão querendo votar com o governo…” E o outro: “sinhozinho, se o senhor quiser, eu posso pegar aquele dinheiro e…”

“Num me digue nada, Dirceu, num me digue nada…”, e o olhar dizendo tudo.

Mais um ponto para a intuição da viúva Porcina, quero dizer, da Regina Duarte…

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