— Yuri mistura realismo mágico com humor nos 19 contos de seu primeiro livro —
(por Daniel Christino, de O Diário da Manhã 25/01/1999)
Sapere aude! O leitor que me perdoe a saudação obscura (que pego emprestado de Kant e, espero, se esclareça aos poucos no decorrer da matéria), mas o assunto em pauta bem que justifica meu latim. A expressão significa “audácia de pensar”, e é exatamente sobre isso que o livro do escritor paulista Yuri V. Santos será que realmente os vê? fala.
Em nenhum outro livro o ditado “não se julga o livro pela capa” pode ser tão bem aplicado. A Tragicomédia Acadêmica – Contos Imediatos do Terceiro Grau (Ed. Vertente, 143, R$18,00) não é um livro infanto-juvenil. Os 19 contos reunidos no volume procuram fazer uma sátira do mundo acadêmico revelando o que se mantém oculto pelas longas formas dos edifícios instituicionais.
Yuri não alimenta compaixão por seus personagens, jogando-os em situações limites que formam a paisagem perfeita para uma verdadeira tragicomédia. Neuróticos, fúteis, loucos, seus personagens habitam um espaço delimitado, mergulhados no absurdo.
O retrato da academia traçado pelo autor é mesmo o de um mundo alienígena, onde parecem não valer as mesmas leis que valem por aqui. A Torre de Marfim perdeu todos os parafusos. E Yuri viveu bem essa “realidade”. Sem ter concluído nenhum, passou pelos cursos de Jornalismo na UFG, Engenharia Civil na UCG, Engenharia Florestal, Letras e Artes Plásticas na UnB.
O realismo mágico é um recurso já bastante explorado pela literatura latino-americana, mas que ganha uma força adicional com o combustível, sempre muito eficaz, do humor. Mas o humor em forma de paródia, que permite ao autor brincar com a mitologia grega e resgatar referências culturais fundamentais.
O essencial em sua obra é que ele usa do humor para jogar luz sobre o mundo acadêmico, numa crítica mordaz que antes de tudo exige do autor uma obstinada coragem de pensar, e pensar de uma forma peculiar. Pois a paródia construída por ele é antes de tudo um grande exercício de pensamento. Sapere aude!