Na novela Roque Santeiro, o famigerado Sinhozinho Malta costumava despachar Terêncio, seu capanga, para a execução dos mais diversos crimes sem jamais falar diretamente sobre suas intenções. Limitava-se a fazer a caveira de algum inimigo, enumerando todas as vantagens que teria se o “cabra” jamais tivesse nascido. Terêncio devolvia: “O sinhozinho num quer que eu mate ele? Posso estripar o sujeito agora mesmo”, ao que o coronel contestava: “Num me digue nada, Terêncio, num me digue nada!”, e agitava as inúmeras pulseiras feito chocalho de cascavel.
Pois é, alguma coisa me diz que José Dirceu pode ter pleno conhecimento dessa forma de, como diriam os zen-budistas picaretas, “não-ação”. Não me refiro a assassinatos, é claro. Mas, atuando como sinhozinho, tecnicamente ele não teria mesmo culpa do que quer que seja. E sempre poderia, como o próprio sinhozinho Malta, jogar posteriormente toda a responsabilidade sobre seu sequaz. Afinal, onde estaria a ordem positiva? Onde estaria o “faça isso”? Num tribunal, à pergunta de se recebeu ou não ordens diretas de Dirceu, Waldomiro só poderia responder: “Não”. (Talvez todo esse procedimento tenha sido parte do treinamento em Cuba, não é? O próprio Dias Gomes, autor da novela Roque Santeiro, devia entender bem dessas coisas.) Enfim, até posso imaginar o José Dirceu lamentando-se para seu assessor: “Ah, Waldomiro, que pena, a grana não vai alcançar até o fim da campanha…” E o outro: “sinhozinho, eu conheço uns bicheiros que…”
“Num me digue nada, Waldomiro, num me digue nada…”, e o olhar dizendo tudo.
Mais um ponto para a intuição da viúva Porcina, quero dizer, da Regina Duarte…
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