Racistas acadêmicos

Em 2000, três anos após ter concluído meu primeiro livro – A Tragicomédia Acadêmica – Contos Imediatos do Terceiro Grau – foi noticiado que a Universidade de Brasília, cenário dos meus contos (e onde morei e estudei por cinco anos), havia sido considerada, graças ao resultado do Provão, a melhor universidade do país. Escrevi à revista Isto É (seção Cartas):

Fico feliz por ver minha amada UnB no alto do pódio das universidades brasileiras. Após viver por cinco anos em seu alojamento estudantil e passar por matérias de diferentes cursos, escrevi A Tragicomédia Acadêmica, livro este recusado pela editora da UnB por não se tratar de “trabalho acadêmico”. Uma pena a voz do aluno não ser ouvida. Uma universidade não se faz apenas com recursos materiais e imaginação para multiplicar dinheiro. Precisa também reconhecer o que há de humano e, claro, de ridículo florescendo em seu campus. E se a UnB é a líder, meu Deus, fico imaginando o resto.
“A nº1 do Brasil” (ISTOÉ 1582).

Hoje, leio que a UnB está criando uma “comissão de verificação de raça”, tudo para justificar o emprego das cotas raciais no vestibular. Nem em meus mais enlouquecidos contos – que chegaram a prever a morte do calouro de medicina durante o trote anos depois – pude imaginar absurdo semelhante. Como diz o editorial do MSM, agora só falta os caras inventarem uma estrela a ser pregada na roupa dos candidatos negros. Eu acrescentaria: uma estrela vermelha com as letras brancas PT, ou seja, “Preto Típico”. Eu – que sou uma mistura de portugueses, negros, italianos, índios e cristãos novos (judeus) – morro de vergonha ao ver que o governo do meu país estimula uma coisa dessas. Se eu fosse virtualmente negro – sim, virtualmente, porque já não existem raças puras – minha vergonha seria dobrada. Claro, a não ser que eu fosse um seguidor da Lei de Gerson…. E vou repetir o que escrevi na referida carta: se a UnB é a melhor, meu Deus, fico imaginando o resto…

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