Rachel de Queiroz diz adeus ao caos

Rachel de QueirozOntem faleceu Rachel de Queiroz. Exatamente uma semana antes, ao folhear o exemplar número 10 da revista Grandes Acontecimentos da História (Editora Três), de Março de 1974, dei com este depoimento da escritora cearense a respeito do regime militar (o negrito é meu):

«Não caberá em 20 linhas uma tentativa de síntese dos prós e contras à Revolução de 31 de Março. Vamos antes ressaltar um dos aspectos que a distinguem entre os demais movimentos regeneradores havidos no Brasil e no mundo: é que esta Revolução nossa, nem durante o seu deslanchar, nem depois, na fase de consolidação, jamais suscitou aparecimento de um chefe carismático, um salvador. Escapou assim da fatalidade obrigatória às revoluções de esquerda e de direita, que é se cristalizarem em torno de um ditador, líder ou caudilho. Pois até no Chile, onde o comunismo se pretendia instalar “por via democrática”, o malogrado Allende se ia configurando como homem-símbolo, insubstituível.

«Aqui, o predomínio militar no movimento deu-lhe, singularmente, uma feição democrática e tranqüilizadora: a rotatividade dos chefes, que ocupam os cargos por tempo marcado, tal como se faz dentro das Forças Armadas. E isso dos primeiros aos últimos escalões, a começar pela Presidência da República, e sem esquecer o contingente dos técnicos, que também se revezam. Assim, quem governa o país é realmente um Sistema, cujos quadros perenemente se renovam. Dentro deles, a reclamada transição do militar para o civil se poderá fazer sem choque, à medida que os quadros políticos se recuperem e, mormente, recuperem a confiança perdida pela sua responsabilidade no caos econômico, social e institucional em que se afundava o país. Caos de que, como é visível e notório, miraculosamente fomos salvos.»

Rachel de Queiroz
escritora

Só espero que a novela não esteja se repetindo e, exatamente por isso, a alquebrada escritora (de espírito inquebrantável) tenha preferido estar ausente desse nosso eterno retorno tupiniquim.

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