Assisti, dia desses, a uma série de reportagens sobre o Mazzaropi: fiquei fã. Não, não exatamente de seus filmes, dos quais, aliás, nunca vi um inteiro, mas de seu espírito empreendedor.
Mazzaropi, após o final da Vera Cruz em 1954 – que não durou mais de quatro anos -, decidiu jamais abandonar o cinema. Em 1958, criou sua própria produtora, a PAM, e emendou um filme após o outro – produzindo, dirigindo e atuando – até 1980 (morreu em 81). Os críticos não o perdoavam. Mazzaropi respondia (cito de memória): “Dizem que meus filmes não ganham prêmios, que são ruins. Bom, desde o princípio decidi fazer cinema popular… E isso não apenas por ter vindo do circo e do rádio, mas porque meus funcionários precisam ganhar dinheiro para viver, e não prêmios. Sem falar nos equipamentos, que são caros. E meu público gosta dos meus filmes, ainda não fui abandonado”.
Mazzaropi aprendeu na Vera Cruz que, para conseguir um bom número de profissionais do ramo, é preciso antes de mais nada que exista uma indústria de cinema na qual possam trabalhar e aprender seu ofício. Cinema se aprende fazendo, não numa sala de aula. E uma indústria só existe se houver um empresário investindo seu tempo e seu dinheiro nela, não basta ser um diretor vivendo às custas de leis de incentivo. (O que, aliás, seria impossível.) E Mazzaropi foi, antes de tudo, um empresário cheio de tino comercial, um homem enérgico que não apenas acreditava poder mas que vivia do e para o cinema. Seus antigos colaboradores comentam, em entrevistas, a transformação que rolava quando o “humirdi” caipira da cena se tornava um general atrás das câmeras. Minha admiração por ele aumenta cada vez que me deparo com os mil e um empecilhos que se interpõem à realização de um filme cujo roteiro escrevi: Estou de Olho – Eye am the I. Não bastasse ter sido escrito em 1999 – ainda não saiu! -, trata-se apenas de um curta-metragem. E tudo por quê? Porque ainda insistimos em levar adiante a necessidade do maledeto apoio estatal. O projeto já foi aprovado, mas é preciso que passemos a extorquir – com uma carta branca do governo – o dinheiro das empresas. Como é difícil engolir essa nossa “realidade cultural”, esse Robin Hoodismo artístico! Mas infelizmente já não sou empresário, sou escritor. Escrever roteiros é apenas mais um lado desse caminho. (E eu tinha logo que escrever uma história cara, com efeitos especiais…)
Numa entrevista, Woody Allen – sim, Woody Allen, não o Mazza – afirma que conheceu muitos produtores que ficaram ricos da noite para o dia. Tudo porque investiram cem mil dólares num filme e lucraram dez milhões. Seria isto possível no Brasil? Alguém que apostasse num filme, não para evitar pagar impostos ao governo, mas porque espera algum lucro? E seria possível distribuir esse filme? Bem, enquanto acreditarmos que a política é a solução de todos os nossos problemas, a resposta será: NÃO. Porque, num país em que se paga tantos impostos, quem é capaz de poupar dinheiro? Quem consegue juntar uma grana para depois escolher esse tipo de investimento?
P.S.: Conheça o Museu Mazzaropi.