Da arte humorística de ser escroto

Quando estudei Artes Plásticas na UnB (habilitação em teoria, história e crítica de arte), costumava ficar besta com todas as imposturas que esses estetas sem coração têm a coragem, ou melhor, a ousadia de chamar de arte. Claro, isto me rendeu os contos Estilo Próprio e O Culturaholic, aliás, umas bobagenzinhas perto do que esses caras realmente merecem.

Eu e minha querida amiga, a artista plástica Thelma Mello, chegamos, certa feita, e na calada da noite, a recolher algum entulho, além de alguns apetrechos de pedreiro, e colocar tudo à entrada do Instituto de Artes simulando uma “instalação”. Claro, coroamos tudo com o dedo médio em riste de uma luva de borracha e a placa: “Não mexa! Trabalho final”. Aquela bagunça ficou ali quase um mês. Nós dois, durante os intervalos, costumávamos nos sentar num banco próximo e ouvir os comentários dos demais alunos e professores. Sei de muita gente que ficou magoada com a brincadeira. Sim, hoje em dia poucos têm senso crítico — ou no mínimo senso de humor — a ponto de diferenciar Arte de mera viagem na maionese estético-conceitual.

Mais recentemente, ao ver a, digamos, performance do anatomista Gunter von Hagens, percebo que nenhum artista plástico — ao permanecer em meio ao vácuo que a arte tem seguido — conseguiria proeza semelhante. Não, von Hagens não é artista plástico, repito, é anatomista, médico. Mas as pessoas têm acorrido a suas dissecações públicas, pagando ingresso e tudo, como quem vai assistir a um quarteto de Beethoven. Não, tampouco tenho o que quer que seja contra o corpo humano, que acho lindo, principalmente quando “funcionando”, mas essa curiosidade mórbida — afinal, nem todos os presentes são estudantes da área de biológicas — me parece um substituto para as pretensas artes e suas mil e uma instalações, happenings imbecis e performances sem sentido. As pessoas não querem mais saber de arte morta, querem é algo que seja entranhado com a morte e, se não há quem lhes dê isso de forma transcendente, contentam-se com quem o faz de forma superficial, descarada. Bem, pelo menos os potencialmente doutores Hannibal Lecteres se contentam. E se esse cara, esse von Hagens, não fosse um médico, mas um artista plástico, minha crítica à sua obra seria levantar-me de meu assento, aproximar-me dele e de seu “objeto”, e vomitar lindamente sobre ambos. Ao mesmo tempo tentaria berrar: “Jucaaaaaaaa!!” Se alguém me perguntasse que diabo eu estava fazendo, eu diria: cada obra de arte tem a crítica que merece e que a complementa…

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