Hilda Hilst no Cadernos de Literatura Brasileira (IMS)

“Este é um trecho da entrevista cedida por Hilda Hilst — com quem morei por pouco mais de dois anos — ao Cadernos de Literatura Brasileira (IMS), na qual ela me cita.”

Cadernos: Noutras palavras, a sua poética, de certo modo, sempre foi a do desejo?

Hilda Hilst: Daquele suposto desejo que um dia eu vi e senti em algum lugar. Eu vi Deus em algum lugar. É isso que eu quero dizer.

Cadernos: E a importância de Deus diminui também agora?

Hilda Hilst: Não preciso mais falar nada, entende? Quando a gente já conheceu isso, não precisa mais falar, não dá mais pra falar.

Cadernos: É, portanto, um esgotamento da linguagem, um impasse, digamos, “expressivo”, que leva ao silêncio?

Hilda Hilst: É verdade. Leva ao silêncio. Eu fui atingida na minha possibilidade de falar. Lá do alto me mandam não falar. Por isso é que estou assim.

Cadernos: Sua obra, no fundo, então, procura…

Hilda Hilst: Deus.

Cadernos: Ele não significava o Outro, o outro ser humano?

Hilda Hilst: Deus é Deus. O tempo inteiro você vai ver isso no meu trabalho. Eu nem falo “minha obra” porque acho pedante. Prefiro falar “meu trabalho”. O tempo todo você vai encontrar isso no meu trabalho.

Cadernos: É disso que decorre a citação de Georges Bataille no poema incluído na quarta capa de Amavisse (1989) – uma espécie de adeus do escritor, que presta contas do que fez -, que diz: “Sinto-me livre para fracassar”?

Hilda Hilst: É isso. É aceitar esse silêncio. Eu não sentia mais necessidade de falar. O Yuri V. Santos, que está aqui ao meu lado, jovem escritor, é um amigo deslumbrante porque ele sabe que eu quase não falo [sobre a “relação pessoal com Deus”] e eu sei que ele também não fala. Ele compreende.

(Cadernos de Literatura Brasileira – Hilda Hilst / Instituto Moreira Salles – São Paulo – SP: Outubro de 1999.)

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Mais informações: Primeiro site de Hilda Hilst.

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