Desde o despertar da autoconsciência
— Lá na infância, em algum canto da escola
Talvez no escorregador, após o pão com mortadela —
Venho aguardando da minha vida o início.
Aos trancos e barrancos, como se diz
É que vejo passar o tempo
Sem que nada, no entanto, mude
A não ser a idade desse vício de aguardar.
Em que ponto, Deus meu, começarei a viver?
Terei de sentir tal frustração até a cova?
Será toda vida uma sala de espera?
Todos os meus amores não serão
Mais que do sexo a desforra?
Para ficar vieram os cabelos brancos
O desprezo dos amigos às minhas visões
A febre das que foram amadas
A minha saudade dum tão recente amor.
Tudo isso forja a minha solidão
Esse incessante fiasco de apalpar o devir
De fazer tocaia à vida
Que certamente pegou um outro atalho.
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SP, 12/12/2011