A arte da palavra

Dói-me tanto não ser poeta!
Tão triste é
Não ter dos meus versos o domínio
Permanecendo à mercê de tão duras impressões
Sem a clara expressão que as cure
Dos labirintos do raciocínio!

Se ao menos fosse rico
Ou se tivesse de beleza a cara cheia
Talvez não me entregasse
A tantos dias de tristeza
A tantas horas de vazio
Pois atrairia outro amor
Que me distrairia de mim
Esquivando-me ao cruel impasse.

No mundo já não encontro Graça —
Eis a terrível verdade!
Na neve da montanha, nas areias da praia
Vi apenas rastros do Infinito!
Na vertente, na arrebentação
Notei somente pistas doutro mundo
E quando havia alguém
Era o inimigo de tocaia.

Eu sentia a vida mais vivida
No contato com velhos e bons amigos
Mas a estes vejo agora tão cinzentos e enfermiços
— Porque a nosso Pai tanto ignoram —
Que diante deles já não consigo sequer fingir
Que minha vida não desperdiço.

Senhor, permiti-me um dia
Ter ao menos da palavra a arte!
Não me deixeis implodir
Com tantas dores, visões e imagens
Nesta alma sem amarras!
Protegei meu dolorido coração
Em seu derradeiro baluarte!

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SP, 2011

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