Segundo li na revista Isto É #1785, os governos do Brasil, da China e da África do Sul defenderam – no Encontro Mundial Sobre a Sociedade da Informação, promovido pela ONU – a implantação de um Big Brother na Internet, um organismo de caráter político para governar, nas palavras do representante brasileiro, Guilherme Patriota, esse “espaço sem regras”. Essa idéia só podia mesmo ter saído das altas cúpulas autistas dos governinhos desses maltratados países. Quem essa gente pensa que é para ter a pretensão de “governar” a Internet? O Estado chinês filtra o acesso a diversos sites estrangeiros, deleta sumariamente os sites supostamente subversivos de seus próprios cidadãos e, nos cybercafés remanescentes, já chegou a colocar um policial por cima do ombro de cada internauta, o que, por mais absurdo que pareça, é a pura verdade. Em conseqüência a China é o país que mais prende indivíduos por se expressarem na Internet, tendo inclusive um exército de milhares de pessoas para monitorar o que seus cidadãos, nos chats, dizem aos estrangeiros. (O que me faz pensar que eu talvez já tenha contribuído para a prisão de alguém, haja vista minha mania de entrar nos chats de certos países para saciar minha curiosidade com internautas locais. Adoro, por exemplo, conversar no meu inglês macarrônico com freqüentadores de chats russos. É cômica a sensação de trocar idéias com uns poucos gatos pingados enquanto a tela vai se enchendo de caracteres cirílicos.) Enfim, na China a Internet é tão perseguida que existe até um site para descobrir quais endereços estão bloqueados.
Vejamos agora a África do Sul. Lá, depois do Mandela, acabou o apartheid, não é? Infelizmente não, o que aconteceu é que o dito cujo virou a casaca. Parece que Nelson Mandela até tentou se livrar da coisa, mas não deu muito certo. Os massacrados de agora, de acordo com várias fontes levantadas por Jan Lamprecht, são os fazendeiros brancos. Politiqueiros negros, ao invés de queimarem de vez o filme do apartheid, decidiram não velá-lo nem revelá-lo, mas manter seu negativo, seu inverso. E quem sofre é todo o povo, seja ele negro, branco, rosado ou azul. (O rodesiano Lamprecht chegou a escrever um livro a respeito: Government by Deception: Psychopolitics in Southern Africa.) Se nas mãos dos politiqueiros brancos o apartheid era um instrumento racista de domínio cultural, econômico e político, nas mãos dos politiqueiros negros tornou-se não apenas uma forma de vingança mas também uma técnica de “dividir para reinar”. Isso sem falar na corja criminosa que Mandela tirou das prisões anos atrás, em um provável ato de recaída diversionista (ou só burrice mesmo) – o cara foi um sabotador profissional – aterrorizando o povo e desviando sua atenção do que realmente ocorria: a perseguição dos africânders e descendentes de ingleses. (Claro, as coisas não devem ser tão simples assim, mas acho que esses fatos procedem.) Enfim, o ApartheiD virou um misto de DiehtrapA com cada um por si. Eis a África do Sul.
E, finalmente, o Brasil. Na mesma revista Isto É #1785, vemos na capa a foto do – oh! – “Brasileiro do ano”: o Ministro da Fazenda – provavelmente a mesma fazenda d’A Revolução dos Bichos, de Orwell – Antônio Palocci. No interior da matéria, lemos em letras garrafais: “Eu sou de esquerda e continuo socialista. Está muito enganado quem pensa o contrário”. E ainda descobrimos informaçõe curiosas, tais como a influência literária que Palocci exerceu sobre a própria mãe, fazendo-a evoluir d’O Pequeno Príncipe – a conhecida estória do menino ET que dizia sermos “eternamente responsáveis por aquilo que cativamos” – ao Capital, do Karl Marx, aquele ressentido que usou a falsa Teoria da Exploração para difundir ódio politicamente engarrafado. Eis portanto o “brasileiro do ano”, um cara que ainda admira uma ideologia totalitária, a mesma dos sonhos do nosso Presidente Tura, o turista. Aliás, tem cabimento um presidente levar uma comitiva enorme para visitar ditadores pelos quatro cantos do mundo? Eu já disse brincando que a CIA só encontrou o Saddan depois que botou um agente pra seguir o Lula. Disse brincando, mas já estou começando a acreditar. Se é verdade que cada povo tem os políticos que merece, então a turma do Casseta & Planeta está coberta de razão: “Ê povinho bunda!”
Graças a Deus que a União Européia, os EUA e o Japão deram risadas da proposta indecente desses malucos. Mas imagine só se fossem ouvidos. Eu, que estou com o CPF enforcado – graças à inarticulação de uma Junta Comercial de São Paulo com a Receita Federal – certamente nem poderia mais ter um blog. Seria uma digitoburrocracia dos infernos. Ou melhor: Infernet. Sim, porque o tal “espaço sem regras” não existe, é um sofisma. Primeiro porque a Internet não é um lugar, mas um instrumento que vence o espaço. Graças a ela tenho leitores – brasileiros, é verdade – no Japão. Segundo porque esse papo de “sem regras” é coisa não só de gente moralmente cega, mas também de quem quer com isso dizer outra coisa, de gente que, na verdade, apenas almeja o poder. Pois além de já existir uma crescente legislação para o mundo digital, os crimes passíveis de ocorrer na Internet já foram previstos pelo próprio Decálogo de Moisés: não furtarás, não darás falso testemunho, não cometerás adultério… Logo, para que policiar? Para que criar mais um número, mais um registro? Essa gente que quer um Governo da Internet acha que toda moral é artificial, convencional e que, por isso, só pode existir se imposta à força, se vigiada. Não acreditam na possibilidade do desenvolvimento individual do caráter – o autodomínio – mas que apenas um controle centralizado iria impedir a ação de hackers, pedófilos, subversivos e semelhantes. Grande erro. aqui cabe uma analogia. Como escreveu Swedenborg, ninguém é condenado ao Inferno. Para o visionário sueco, o homem, em essência, é sua Vontade e seu Entendimento. Sua Vontade é ainda seu Amor reinante e, assim, depois que alguém morre, dirigi-se para onde está o objeto do seu amor. Para os planos infernais vão aqueles que amam os vícios e crimes, e lá lutam pelo poder. Para os planos elevados vão os que amam a Divindade. Por analogia, a Internet é como esse estado pós-morte. Cada um vai para o site de seu amor reinante. Sim, é verdade, na Internet já está contida a Infernet. Mas esta é a Infernet do Livre-arbítrio, não a daqueles que são condenados por um poder externo a perder sua liberdade, sofrendo constante vigilância e julgamento. A Infernet atual é a dos que resolveram reduzir seu horizonte vital por vontade própria, refestelando-se em seus vícios e cyberdelitos. É a Zion residual necessária à existência da Matrix, que, por sua vez, possui tantos “controladores” quantos sejam seus usuários. E por isso não é preciso nenhum Controlador Oficial para vigiar e punir. A Internet é nossa chance de aprender o autogoverno, de aprender o que seria uma sociedade baseada não na desconfiança, mas na confiança. Basta participar de qualquer das mil e uma comunidades virtuais para se perceber isso, basta saber que a Internet une pessoas reais. E por elas zelam já aqueles que estão dentro da LEI. Abaixo o Big Brother!