Soneto do Desmemoriado

Quantas vezes censurou-me a memória: «Diz o já dito! Do novo se esquece! «Datas? Nomes? Tudo aí se arrefece! «Meus esforços? Pra você são escória!» Que pena não ser bem mais esquecido! Quisera eu já não tê-la em minha mente! Pernas, olhos, voz, mãos — a boca quente! Quisera não …

Um outro atalho

Desde o despertar da autoconsciência — Lá na infância, em algum canto da escola Talvez no escorregador, após o pão com mortadela — Venho aguardando da minha vida o início. Aos trancos e barrancos, como se diz É que vejo passar o tempo Sem que nada, no entanto, mude A …

A arte da palavra

Dói-me tanto não ser poeta! Tão triste é Não ter dos meus versos o domínio Permanecendo à mercê de tão duras impressões Sem a clara expressão que as cure Dos labirintos do raciocínio! Se ao menos fosse rico Ou se tivesse de beleza a cara cheia Talvez não me entregasse …

A teia

Sentado à mesa Sob a luz da luminária Não estou só. Tenho por companheira Uma aranha que busca insetos Como busco palavras. (BSB, 1993)

O Processo

Escrevo e tenho no meu colo Um anjo com feições andróginas Ele observa atentamente Cada palavra que jogo neste fundo. Sentado na ponta da escrivaninha, Há um demônio de ares femininos. Voluptuosa ela acaricia meus cabelos. Ela lê o mesmo que o anjo – Pelo avesso porém. Os três criamos …

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